segunda-feira, 4 de abril de 2011

Vai virar um livro... Algum dia!

E me enganando, a luz voltara a transcender minhas pálpebras e mais uma vez eu voltava ao início de tudo. Permaneci ali, estático... Ouvia o chiar do riacho e sua voz embutida na mais pura água, as aves que se banhavam ali perto neste mesmo riacho, resmungando de como aquele dia havia sido ruim e o farfalhar das árvores sussurravam aos meus ouvidos cânticos que outrora foram esquecidos da memória dos homens. Os pensamentos das pedras se misturavam aos meus que se confundiam e deixavam levar pelas conversas milenares e sem conteúdo, culpa de um tédio agonizante que com o passar dos dias degradava suavemente suas mentes.
Ainda sem entender o que havia acontecido, comecei a perceber onde eu estava. A folhagem formava desenhos estranhos e peculiares para cada tipo de planta, as pedras eram dispostas em fileiras dos dois lados, como um caminho que fora traçado talvez por camponeses que quiseram deixar seu caminho com um pouco mais de beleza. 
Eu me sentia fraco, como alguém que se excedeu fisicamente e já não conseguia me colocar de pé sem sentir a dor agonizante que me acometia. O sol já caminhava em direção as montanhas e quase já não era possível sentir seus calorosos braços envolvendo-me e do lado oposto eu via a noite chegando, calma, como um lençol de seda negro envolvendo cada pedacinho de luz perdido. À noite, já não era possível ver nada, a lua com sua clareza infindável havia escondido sua presença, nem mesmo as estrelas apareceram e agora o desespero se apossava de mim como um suave veneno preenchendo o meu coração. Nada me restava a não ser esperar um dia novo e este veio sem aviso. Clareando com fervor todo aquele lugar. Árvores até onde a vista alcança, um tapete verde emanando vida e hostilidade ao mesmo tempo. Cachoeiras por toda parte, sem contar a infinidade de animais que eu havia visto, mas só agora havia percebido. Assim como as coisas inanimadas, também era possível ouvi-los, mas se eles podiam ouvir-me, eu ainda não sabia.
A fome em mim crescia incessantemente, mas só agora eu me dava conta. Tudo era tão novo e único, eu me sentia como um bebê que acabava de conhecer um mundo totalmente novo. Minhas mãos apalpavam meu rosto delicadamente tentando montar uma imagem da minha face, tentando buscar alguma marca ou alguma coisa de que eu me lembre. Mas não achei nada. As roupas em que vestia estavam com algumas partes queimadas, outras rasgadas, mas não havia ferimento algum. A estrada que eu encontrei descia por quilômetros e parecia a melhor opção naquele momento. Talvez eu pudesse achar ajuda e respostas.
Levantei-me, olhei em volta... Tudo ainda estava lá, as árvores, contando seus segredos, as pedras, com seus inúteis diálogos e os animais, cansados como sempre. Naquela hora ainda não tive a coragem de tentar me comunicar, apenas continuei andando, mas algo chamou-me.
-“Tem certeza que deseja seguir em frente?”.
Assustei-me com a voz, parecia velha e rangia quando era emitida. Procurei ao redor, mas não havia ninguém.
-“Por que é tão difícil para você ver quem lhe fala?”.
Tentei manter a calma, e dei alguns passos para fora da estrada na tentativa de descobrir de onde a voz vinha.
-“Enfim você encontrou-me! Pode dizer-me aonde vai?”.
A gigante árvore, na qual antes eu só podia ouvir os pensamentos, agora falava diretamente comigo.
-Eu não sei para onde vou, não sei nem ao menos quem sou. Onde estou?
-“O seu coração está muito aflito, acalme-o. Você vai encontrar suas respostas a diante, mas encontrara também muitos perigos. O seu coração deverá te guiar nesta jornada, acalme-o e siga-o sem hesitar. Por hora é tudo o que eu tenho para te dizer”.
-Posso fazer uma última pergunta?
-“Você já fez, mas se quer saber como chegou aqui eu posso lhe dizer. Você caiu do céu, envolvido em fogo. Jamais vi coisa igual, e tenho certeza de que você é mais que um simples alguém. Tenha isso em vista e você não terá dificuldades de achar o que está procurando neste lugar”.
-Como você sabia o que eu estava pensando? – perguntei, mas já com a resposta em mente - E eu não estou procurando nada!
-“Todos nós procuramos por algo. Você não veio pra cá sem um propósito, logo descobrirá o que está procurando. Lembre-se: Você não é o único que pode ouvir os pensamentos, tome cuidado com o que pensa. Agora vá e boa sorte!”.
A árvore agora voltara a ser o que sempre pareceu; apenas um tronco ao relento no tempo, observando a única paisagem na qual se encontra.
A estrada continuava floresta adentro, com suaves curvas e linhas que se estendiam por toda a floresta. O sol agora penetrava por entre a folhagem densa das árvores, a umidade se esvaía. Eu precisava encontrar água e alimento, pois quase não conseguia ficar de pé sem a ajuda de um apoio. Segurei-me nas árvores que seguiam as laterais da estrada e com muita dificuldade continuei a caminhar. Não andei muito, pois já não me aguentava sobre minhas próprias pernas, mas foi o suficiente para encontrar uma casa.
Na frente da casa havia uma grande entrada, com grandes pilares que sustentavam estátuas de anjos que contornavam a única entrada que levava para dentro. Em volta desta havia um lindo jardim, com muitas flores e pequenos arbustos. Um círculo gigante, feito com tijolos coloridos que desenhavam um imenso mapa, ficava em frente e também era contornado pelo jardim e pelas lindas estátuas erguidas pelos pilares. Todas as estradas convergiam para as bordas daquele círculo.
Olhando atentamente para o mapa, não consegui identificar nada. Nem mesmo a escrita era parecida de forma alguma com o que eu já havia visto.
Decidi me adentrar pelo caminho que levava à casa. Era um caminho curto, que atravessava o jardim. Descobri que haviam nomes escritos na base dos pilares, cada pilar tinha um nome diferente e um anjo diferente. As enormes portas de vidro estavam escancaradas e quando os raios de sol incidiam nela, um grande arco-íris era projetado na parede, como se fosse uma pintura natural. Logo ao cruzar as portas, pude ver uma grande biblioteca com imensos corredores e livros, com tamanhos diferentes e épocas diferentes. Alguns estavam tão envelhecidos que mal era possível tirá-los da prateleira. Não pude decifrar nem mesmo a capa de alguns livros. A única coisa que estes tinham em comum eram algumas figuras desenhadas a mão, mostrando criaturas de todos os tipos e tamanhos. Quer saber qual é a novidade? Eu reconheci uma delas!
Arranquei a página do livro, na qual estava a figura que não havia deixado minha mente. A descrição da criatura é desnecessária agora. A imagem trouxe-me lembranças de alguns minutos antes de eu cair neste lugar. Eu queria ir mais a fundo e tentar achar outras coisas que talvez me remetessem a lembranças, mas eu acabava de ouvir passos, que agora vinham crescendo rápido na minha direção. Eu ainda não podia ver de quem eram os passos ligeiros quando de repente fez-se silêncio absoluto. Olhei para o fim do imenso corredor e não havia nada. Olhei para trás e lá estava ela, parada, me fitando nos olhos, esperando, talvez, que eu lhe dissesse pelo o que eu estava procurando.
-“Desculpe-me, posso ajuda-lo?”.
- Sim, na verdade, eu acho que pode. A propósito, você me assustou!
-“Desculpe-me por isso, Senhor. Não vai se repetir. Diga-me, o que está procurando?”.
-Eu não sei exatamente pelo que procuro. Talvez pelo passado, talvez pelo futuro. Mas por enquanto eu realmente preciso saber de uma coisa... Onde estou?
-“Terei que pedir desculpas de novo, Senhor. Mas não cabe a mim fornece-lhe essa informação. Você foi trazido aqui, pois há uma grande coisa a ser feita e ela só pode ser feita por você. Se procura pelo seu passado, não irá encontrar a resposta nos livros, mas há alguém que tem todas as suas respostas. Procure por Umba na interior da floresta negra. Devo averter-lhe para que não vá sozinho.”.
E virando-se, desapareceu por entre as prateleiras da biblioteca.
(Esperem eu ter mais criatividade e escrever um pouco mais! ahahah!)